sábado, 20 de agosto de 2011

Amor & Suicídio - 2º Capítulo

Se você não leu o primeiro capítulo: Amor & Suicídio - 1º Capítulo

Amor e Suicídio

Capítulo 2.

  Arrisco eu dizer que ele saiu comigo por pena. Não que ele soubesse que eu tinha levado um fora, eu não contei, mas ele devia imaginar que era uma noite ruim.
  Ele havia se mudado, por causa do trabalho. Agora ele morava em um bairro próximo ao meu, em uma casa incrivelmente grande. Lembro de tudo como se fosse ontem.

- Você mora perto de mim então, Cass.
- É Chris, quem sabe agora não precisemos do computador.
- Cass, venha comigo.
  Ele me levou de carro até um parque, demorou um pouco, então ficamos conversando. Eu não deveria ter ligado.
- Eu sei o que aconteceu aquela noite, na festa.
  É, admito que eu poderia estar errada ao pensar que podia fingir que nada acontecera e ele não saberia. Foi exatamente o pior modo possível de finalmente beijar Chris.
- Desculpa, eu não sabia que era você, eu... Não estava bem aquele dia.
- Nem eu, meus amigos me contaram. Eles perguntaram seu nome para a sua amiga.
- Uma noite e tanto não é?
  Ele só riu e continuamos caminhando pelo parque até chegar ao fim dele. Ele terminava em um lugar alto, aonde dava para ver uma boa parte da cidade.
- Sente neste banco e observe o espetáculo da natureza.



  Eu nem imaginava que já estava amanhecendo. Digo, até estava percebendo, mas o tempo passou muito rápido. Eu fiquei só observando.
  Ele olhou para mim, pegou meu queixo e virou meu rosto para ele. Não precisou me puxar, me aproximei devagar e o envolvi com meus braços.
  Aquele sim deveria ter sido o nosso primeiro beijo. Hoje eu já não me importo com qual foi o primeiro, o segundo ou o último. Só vou me lembrando de cada um e os matando com amargura.
  Regra dos homens, ele não ligou no outro dia, e nem depois. Ele me torturou e brincou com os meus sentimentos, depois veio até a minha casa com uma rosa e me chamou para sair.
  O que eu iria fazer? É lógico que saí, eu tinha dezenove anos, ainda não era adulta.
  Cada dia com Christian Makhlouf era uma nova surpresa, neste dia ele ia tocar com sua banda em um barzinho chique.
  Ele me ofereceu uma música, comemos e bebemos algo, ele me beijou como se estivesse apaixonado e cada um foi para a sua casa. Eu demorei para dormir e ele na certa dormiu logo.
  Assim pensava eu, até o dia em que ele chegou, não só com uma rosa, mas com um buque e um violão, se declarando e pedindo para namorar comigo.
  Desta vez era verdade, não fazia parte de uma brincadeira idiota e ilusória. Então, comecei a crer não só no amor, mas no amor recíproco.
  Outro dia que me lembro foi quando ele me levou para um parque de diversões.

- Chris.
- Oi.
  Ele me olhou tão profundamente, nunca me esqueço daquele olhar dele. Seus olhos verdes tinham o poder de me persuadir.
- Eu te amo.
- Eu também te amo, Cass.
Eu sorri, estava apaixonada por Christian Makhlouf, e era irreversível.
- Se um dia você conseguir contar o número de estrelas que existem no céu e somar a intensidade de todas elas, você saberá um pouco do quanto eu te amo.

  Nunca me esqueço daquelas palavras, da voz dele dizendo elas. Sempre imaginava ele dizendo aquilo no nosso casamento.
  Como a mente é fértil. Ouso dizer que eu não estive lúcida naqueles tempos. Já ouviu aquele ditado: “cego de amor”? É, gosto de pensar que é bêbado de amor.
  O dono dos meus pensamentos, do meu coração. Eu não deveria ter escolhido ele, eu sabia que tudo era bom demais, que o bom deveria acabar logo. Insisto sempre em pensar que eu atraía o azar, que nada de bom acontecia comigo, se aquilo estava acontecendo, então algo de ruim iria acontecer comigo, e em dose dupla, afinal, comigo aquelas coisas nunca aconteciam a não ser em sonhos ou imaginações.
  Mas, o que é a vida se não sonhos? Só porque você sonha, não significa que não é real, significa que você tem uma meta, tem sentimentos, tem vontades, tem expectativas para a sua vida, não significa que você morreu, que realmente vive neles.
  Minha vida com ele ora era sonhos, ora pesadelos; tinha seus altos e baixos, tínhamos um relacionamento estavelmente instável,era tudo complicado, mas muito simples.
  Fomos em vários brinquedos e até comemos algodão doce e dividimos um Milk shake em dois canudinhos, demos risada. Foi um dia que considero realmente feliz e sincero, não que não considere os outros, mas aquele dia foi diferente, nós nos divertimos sem forçar nada, sem até mesmo precisar de palavras para expressar as coisas e sentimentos, não disse para ele que o amava, ele sabia disso, e naquele dia ele podia sentir em meus olhos.
  Fui com ele até sua casa, esta mesma casa em que estou agora, até posso ver nossos semblantes mais jovens abrindo a porta da sala, sorrindo e se apressando em um beijo. Christian bateu no sofá e caímos nele, seu beijo era intenso e estávamos um tanto quanto ofegantes, quase caímos no chão e demos risada um do outro. Ele se levantou me levando junto, meu rosto estava um pouco acima do dele e eu olhava ele de cima, sempre com seu olhar fixo nos meus, minha mão parava em sua bochecha e a outra em sua nuca, entrelaçando seus cabelos que se camuflavam na escuridão do quarto.
   Eu segui os semblantes por cada parte da casa, eu podia vê-los, eu podia senti-los, mas não era eu aquela garota de dezenove anos, aquela garota já havia morrido antes de se matar, ela era ingênua, ela era um tanto quanto imatura. Ela não tinha culpa, ela não sabia, ou não pensava, em todas as coisas ruins que existiam, que iriam acontecer com ela, as coisas que acabariam com cada parte de seu coração, com cada sorriso que havia dado, com cada lembrança boa que ainda existia em sua mente. Eu gostava daquela garota, ela era feliz mesmo com todos os seus problemas, e foi bom não pensar em todas as coisas ruins, eu jamais teria vivido tudo isto ou até aqui se não tivesse sido ela por um tempo.
  Aquela foi a primeira vez que dormi com Christian Makhlouf, foi uma das melhores noites que tive com ele; talvez por ser a primeira, por causa de toda a expectativa, talvez porque aquele dia foi sincero, talvez porque naquele dia não precisávamos de palavras para nada, talvez por todos estes motivos.
  Ele definitivamente fazia parte de minha vida, ele não era um namorado qualquer, ele era o garoto com quem eu sonhava todas as noites, com quem eu sonhava todas as horas; para senti-lo só era preciso fechar meus olhos, para imaginá-lo bastava querer isto; e não era coisa de adolescente apaixonada, era o amor, eu definitivamente estava bêbada de amor.
  Dormi acima de seu ombro e repousando a mão sobre seu peito, foi tudo como sempre sonhei, e só porque não foi planejado, não significa que deixou de ser romântico, as vezes ainda penso que isto pode ter deixado tão romântico quanto algo planejado, tão sincero quanto algo que esperava. Quando acordei eu fiz seu café da manhã e tomamos ele silenciosos na mesa retangular que havia na cozinha, vez ou outra sorriamos um para o outro, eu abaixava a cabeça um pouco envergonhada, ele levantava com seu dedo em meu queixo e dava um sorriso torto.
  Segui os semblantes até a sala, aonde eles veriam televisão abraçados no sofá até eu criar coragem e ir para minha casa. Eu invejava a garota, era feliz mas só ela não sabia, nem nunca soube até perder todos os motivos para continuar a viver, ela não tinha muito com que se preocupar. Enxuguei meus olhos que lacrimejavam sem parar, era triste reviver toda a nossa história, todos os momentos bons.
   Agora já não me importo em contar nossas pequenas brigas, minhas agonias esperando telefonemas, esperando que ele batesse a minha porta, que me trouxesse flores, que me dissesse que ainda gostava de mim, essas coisas me parecem muito fúteis para contar, não que na hora os sentimentos não fossem verdadeiros, sempre foram, jamais quis mentir, mas é que mesmo que o acumulo dessas coisas não resolvidas tenham me dado mais um motivo para entrar em depressão, elas foram as menores coisas, as coisas que sei que superaria.
  Peguei uma almofada branca que combinava com toda a sala e o apertei, eu não sabia o que fazer para descontar minha tristeza, eu estava me matando de agonia de não ter o que fazer para fazer parar, não ter o que fazer para não doer, para não chorar. Eu só desejava lembrar toda a nossa história, nossos grandes momentos antes de morrer, eu só queria ter um alguém para contar tudo, talvez alguma parte de tudo se esvaísse, talvez o meu erro deva ter sido ter guardado tudo para mim, quando existia o nós dois.
  Deixei a almofada de lado e coloquei minhas duas mãos sobre meu nariz e minha boca, eu queria acabar logo com aquilo, eu sei que então tudo pararia, toda a dor, toda a tristeza, toda a agonia, meus pensamentos, minhas lágrimas, meu coração.

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